sexta-feira, 20 de março de 2009

-Cenas-


Chovia muito naquela noite, meu dia havia sido muito cansativo.
Cheguei em casa e fui direto para o sofá, deixei as sandálias pelo caminho sem tirar a roupa incômoda do jantar de negócios que participara há pouco. Cobri o rosto com as duas mãos. Uma respirada profunda me fez tomar animo para acender as luzes de casa e fechar a porta.
-Porta encostada – bati a mão no interruptor, nada! Algum raio deve ter interrompido a eletricidade – nova respirada profunda.
Tudo bem! Existe um vinho para ser aberto e proporcionar um consolo imaginário e um sono bem real.
Procurei em meio à penumbra se havia alguma vela na casa. Lembre-me de uma que ganhei, um cheiro doce que não me agrada muito. Pelo menos as velas aromáticas serviam para alguma coisa. Mesmo sozinha, derramei o vinho na taça, balancei de leve, como quem entende do assunto, senti o odor. Delicioso o cheiro do vinho seco.
Após o gole senti o pescoço puxar; era cansaço. A cabeça dava leves pontadas nas têmporas, num ritimo lento, incômodo.
Sentei-me à mesa, distraidamente cantarolava uma música conhecida, me levando a ter devaneios de uma paixão quase adormecida, que fora alimentada em vão, um amor impossível.
O vinho descia pela garganta devagar... o cheiro doce e enjoativo da vela dominava todo o ambiente.
Sorrisos abafados, quase imperceptíveis surgiam teimosos em meus lábios, quando a cabeça trazia a memória cenas daquela paixão. Meus olhos permaneciam fixos na chama da vela, mas não analisavam nada, só observavam, perdidos no tempo.
Percebi meu estado. Após meia garrafa senti-me ridícula, o choro começou a tornar-se incontido, permiti, então, uma única lágrima cair antes de abstrair tais pensamentos.
Escutei uma batida na porta. Conferi o relógio, era bem tarde, o tempo havia passado rápido desde a minha chegada.
Nem pensei quem poderia ser. Enxuguei aquela lagrima – respirada profunda – abri a porta!
A imagem que se descortinou à minha frente me deixou perplexa (ou pasma se preferir). As pernas e os braços iam rapidamente perdendo a força num formigamento sem fim, meu coração palpitava incontrolável.
Era ela! Seu cabelo e corpo molhados da chuva que caía torrencialmente lá fora. Nenhuma expressão, seus olhos estáticos estavam fixados nos meus.
A luz da vela fazia daquele corpo em minha frente apenas uma sombra, mas eu sabia: era o meu amor.
Mesmo com o corpo trêmulo, fixei meu olhar no dela. Minha vontade era dar-lhe um tapa - ou um beijo - mas não ousei falar, esperei.
E ela disse – Eu ainda te amo –



continua....

Um comentário:

Jairo Borges disse...

Nossa! Adorei! Mt inteso mesmo! gosto de contos assim! Parabens msm! Abçs!